O umbigo se sentia excluído.
Tudo naquele corpo tinha sua utilidade. Menos ele.
E todos faziam questão de demonstrar publicamente sua hostilidade para com o miserável.
As veias, malditas, que eram os cabos de fibra óptica do corpo, o zombavam.
A carne, infeliz, que era a polpa madura do corpo, o caçoava.
E os nervos, desgraçados, que eram as engrenagens do corpo, o chacoteavam.
Sem falar dos órgãos altivos e sanguinolentos que, se ele permitisse, seriam capazes de lhe cuspir na cara.
As células, velhas ou novas, frequentemente perguntavam-lhe: “Qual a utilidade de um furo no meio da barriga?”. E ele, envergonhado, encolhia-se em seu próprio orifício.
Os únicos amigos do umbigo eram os pêlos grandes, grossos e crespos que cresciam na vizinhança da barriga. Muitos deles costumavam pinicar-lhe as dobras, mas ele sempre os perdoava. “Pobres pêlos... estão precisando de uma aparada.”
E a cada circulada do sangue, o corpo se revoltava cada vez mais com a sua presença desnecessária. “Umbigo inútil! Para que te queremos?!” roncava o estomago por detrás da pele gordurosa do umbigo. “De buraco já me basta eu!” berrava sonoramente o ânus do outro lado do corpo. “Tu não passas de uma cicatriz dispensável, umbigo!” gritavam as vísceras.
Cabisbaixo, a cada ofensa, o umbigo encolhia-se mais e mais para dentro do corpo.
Até que relou no intestino. E esse, bravo pelo ultraje do ato, empurrou-lhe com todas as forças de seus tentáculos gelatinosos para frente. O estomago, pâncreas, fígado e até mesmo as costelas, trataram de apoiar a atitude do intestino e ajudaram-no a empurrar o umbigo maldito para longe. Em menos de meio minuto, todos os órgãos perto das redondezas do alvo, empurravam-no para fora, e os que não podiam participar, ficavam na torcida, gritando injurias e ofendendo o umbigo. E ele, já triste e conformado, deixava que o banissem com toda a passividade possível, e até os ajudava, inclinando-se para frente, a fim de facilitar a expulsão.
E após dois minutos de frenético movimento de tripas e veias, a pele cedeu e o umbigo despencou do corpo. Entretanto, não contavam que nele, estivessem grudadas algumas veias que se ligavam ao fígado, e no fígado estava escorado o pâncreas, que no brusco puxão rasgou o diafragma que sustentava os pulmões e o coração, que no impacto, levaram consigo o intestino, que se entrelaçou com alguns nervos, e estes puxaram junto a bexiga. E, pelo buraco que se formou no centro da barriga com a queda, todos os outros órgãos arrastaram-se um ao outro até espatifarem-se completamente no chão, desconstruindo todo o organismo, que demorou nove meses para ser edificado, com a ajuda, em especial, de um cordão umbilical.
Tudo naquele corpo tinha sua utilidade. Menos ele.
E todos faziam questão de demonstrar publicamente sua hostilidade para com o miserável.
As veias, malditas, que eram os cabos de fibra óptica do corpo, o zombavam.
A carne, infeliz, que era a polpa madura do corpo, o caçoava.
E os nervos, desgraçados, que eram as engrenagens do corpo, o chacoteavam.
Sem falar dos órgãos altivos e sanguinolentos que, se ele permitisse, seriam capazes de lhe cuspir na cara.
As células, velhas ou novas, frequentemente perguntavam-lhe: “Qual a utilidade de um furo no meio da barriga?”. E ele, envergonhado, encolhia-se em seu próprio orifício.
Os únicos amigos do umbigo eram os pêlos grandes, grossos e crespos que cresciam na vizinhança da barriga. Muitos deles costumavam pinicar-lhe as dobras, mas ele sempre os perdoava. “Pobres pêlos... estão precisando de uma aparada.”
E a cada circulada do sangue, o corpo se revoltava cada vez mais com a sua presença desnecessária. “Umbigo inútil! Para que te queremos?!” roncava o estomago por detrás da pele gordurosa do umbigo. “De buraco já me basta eu!” berrava sonoramente o ânus do outro lado do corpo. “Tu não passas de uma cicatriz dispensável, umbigo!” gritavam as vísceras.
Cabisbaixo, a cada ofensa, o umbigo encolhia-se mais e mais para dentro do corpo.
Até que relou no intestino. E esse, bravo pelo ultraje do ato, empurrou-lhe com todas as forças de seus tentáculos gelatinosos para frente. O estomago, pâncreas, fígado e até mesmo as costelas, trataram de apoiar a atitude do intestino e ajudaram-no a empurrar o umbigo maldito para longe. Em menos de meio minuto, todos os órgãos perto das redondezas do alvo, empurravam-no para fora, e os que não podiam participar, ficavam na torcida, gritando injurias e ofendendo o umbigo. E ele, já triste e conformado, deixava que o banissem com toda a passividade possível, e até os ajudava, inclinando-se para frente, a fim de facilitar a expulsão.
E após dois minutos de frenético movimento de tripas e veias, a pele cedeu e o umbigo despencou do corpo. Entretanto, não contavam que nele, estivessem grudadas algumas veias que se ligavam ao fígado, e no fígado estava escorado o pâncreas, que no brusco puxão rasgou o diafragma que sustentava os pulmões e o coração, que no impacto, levaram consigo o intestino, que se entrelaçou com alguns nervos, e estes puxaram junto a bexiga. E, pelo buraco que se formou no centro da barriga com a queda, todos os outros órgãos arrastaram-se um ao outro até espatifarem-se completamente no chão, desconstruindo todo o organismo, que demorou nove meses para ser edificado, com a ajuda, em especial, de um cordão umbilical.