Wednesday, March 04, 2009

Dúvida.



Nasci numa manhã gelada de inverno. Como em todas as manhãs geladas de inverno, meus ossos chacoalharam dentro de meu pequeno corpo recém-nascido. E meu corpo recém-nascido, involuntariamente, pôs-se a chorar minhas magoas recém-plantadas.
Ainda que ninguém suponha, nos meus primeiros segundos de vida eu já sabia o que seria de mim. Mas só depois de duas décadas eu pude comprovar verdadeiramente as minhas premonições. Premonições raramente são enganosas. Aos 22 anos de vida, descobri que já estava cansado de viver. E de tanto pensar em morte, peguei-me demasiado indisposto para morrer. 22 anos sabendo as respostas e de repente, mudaram as perguntas. É fácil saber as respostas quando se tem todo o tempo do mundo para pensar nas perguntas. Mas é trabalhoso saber que cada resposta leva a incontáveis perguntas. Minha mãe não sabia as respostas, mas as perguntas se escondiam por detrás de seus dentes gastos. Meu pai apenas respondia, ainda que não lhe perguntassem nada. Ele não perguntou se sentiríamos sua falta quando partiu. Da mesma maneira que meus irmãos não perguntaram como eu me sentia quando me trancavam do lado de fora da casa, enquanto minha mãe estava no trabalho. Eu me perguntava se tudo aquilo era realmente necessário. E a minha resposta sempre foi imutável. Não. Nesse mundo nada é necessário. Exceto as dúvidas. Foram as duvidas sobre a vida e o mundo que construíram a humanidade.
Meus amigos não têm duvidas. Pararam entre a Av. Dezessete com a Av. Vida Adulta. Eu, como bom admirador do nada, assentei meus pés no meio desse cruzamento. E ás 17 horas dos meus 22 anos, 3 meses e 2 dias de vida, espero ansiosamente que o sinal abra. Há caminhos por todos os lados. Cada qual me levaria a excitantes e diferentes destinos. Mas por ser de meu conhecimento que o destino está a minha escolha, meu destino não me interessa mais. Agora que o sinal está semi-aberto, eu pedirei uma carona ou me jogarei em frente aos carros?