Tem algo de errado conosco. Já nascemos errados, com nossa
supremacia genocida, nossa raça de ditadores individualistas, mestres na arte
de não se importar. Já nascemos meio mortos, eternamente presos nas grades que
levantamos para nos proteger do próximo: esculpimos nossas casas em cima dos
formigueiros, construída por mãos cansadas, com a madeira suja de ninhos destroçados
sob o céu manchado de fumaça. O trajeto humano é feito da imundice, dos
massacres e das escravidões. Guerreamos batalhas eternas, infinitas como o
nosso ego e nunca ganhamos nada. Encarceramos, modificamos e criamos monstros
deformados, fracos, cambaleantes, desnutridos, precocemente natimortos para
preencher o vazio das nossas entranhas saciadas. Eles nascem para sofrer, nunca
andarão, nunca verão o sol, nunca sentirão a terra, nunca ciscarão ou correrão e,
ao fim, sua carne sagrada, cheia de sangue e de magoas, será um pedaço de carne
desperdiçado no seu prato, um bife estragado no fundo da sua geladeira. Tudo em
vão. Somos assassinos asquerosos, sádicos e arrogantes. Tivemos um planeta
inteiro, tivemos muito tempo para evoluir e nos emancipar da maldade bestial e
cega que está infinitamente aquém do instinto mais básico de qualquer outra criatura
da Terra. Tivemos todas as chances e desperdiçamos tudo... Ninguém está vindo para
nos salvar, ninguém está tomando conta de nós e ninguém nos redimirá de nossos
erros. Muito provavelmente não existe nenhum deus ou entidade ou espírito ou
anjo ou qualquer coisa para nos salvar de nossos pecados. Vamos nos extinguir
nos próximos séculos, sufocados com nosso próprio veneno, presos numa cela
pequena demais para nossas ambições. Nascemos com facas cirúrgicas, crescemos entre
paredes estreitas, em salas lotadas, sem nunca podermos sair e sentir o sol da
manhã na pele e sentir o entardecer nos ossos... Trabalhamos por décadas da
nossa vida curta para sobreviver, assinamos contratos vendendo a alma e, com a
mesma violência de um animal, destruímos qualquer concorrente que ameace roubar
nosso cargo nojento. Aos poucos, cada um de nós, joga um punhado de terra na cova
coletiva que cavamos para nos enterrar vivos. Seremos mais um planeta morto, assim
como muitos outros no vácuo do espaço, cuja civilização será escondida na
fumaça e nunca nenhuma criatura chegará até aqui para conhecer os registros cotidianos
de nossas vidas infelizes, desnecessárias e nocivas. Melhor para eles...
Wednesday, December 10, 2014
Subscribe to:
Posts (Atom)