Quando somos crianças temos grandes objetivos de vida. Tudo
é maravilhoso porque tudo está distante. Mas você cresce e os sonhos se apagam,
a vida se torna impossível. Cada sonho se torna uma estrela, infinitamente longe
e brilhante, te assombrando pela janela nas madrugadas de insônia. Essas noites
tristes estão voltando com a mesma frequência de antes. Estou perdendo o
controle de novo. O controle que sempre falaram que eu deveria ter sob os
grandes objetivos que sempre disseram que eu teria. Eu deveria ter. Para apagar
os sinais da bastarda que sou na família racista na qual cresci. “Você precisa
ser maior, precisa ser grande, precisa ser melhor”, diziam. E eu acreditei. Acreditei
que eu teria potencial. Eu li tudo o que me deram, li tudo o que me falaram, li
mais do que precisaria, mais do que são capazes de entender, eu estudei até o
ápice do meu cérebro, eu me castiguei a cada erro, a cada desaprovação e
humilhação. Mas não foi o suficiente. Me desculpe, não foi o bastante. Tudo o
que eu fiz não foi o bastante. Me esforcei tanto para nada. Andei descalça no
gelo, só para provar que eu seria capaz. Mas não foi o suficiente. Foi
sufocante. O céu está caindo sob minha cabeça e não há nada por cima dele. Me
desculpe por decepcioná-los sempre, diariamente, a cada segundo. Eu compreendo
como vocês se sentem, eu compreendo a vergonha. Eu também me sentiria assim se
tivesse um fardo incapaz de cumprir ordens simples. Eu entendo e peço desculpas
sinceras, de todo o meu coração. Mas não se preocupem. Sempre ouvimos que as
coisas vão melhorar... e vão mesmo. Tudo vai melhorar e a vida sorrirá para
vocês novamente. Sem estorvos ou pesos para carregar. O quarto ficará limpo e
as vergonhas serão redimidas... esperem e o sol iluminará os seus dias novamente,
assim como iluminava antes de mim... tenham apenas um pouco mais de paciência e
verão... vai ficar tudo bem... tudo bem de novo.
Sunday, March 22, 2015
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