Saturday, June 27, 2015

O Porvir





Estou enlouquecendo e a sensação é agradável. Não há mais a necessidade de se desculpar pelas falhas e pelos acidentes cometidos, há apenas a necessidade de torna-los reais. Todo esse calor no peito, todos os calafrios a cada pequena destruição, o sangue para as grandes destruições. Eu tenho um bom plano na cabeça, uma arma grande para perfurações profundas e certeiras. Bombas vermelhas. Não gosto de tortura, será algo rápido e letal. Será algo indolor. E depois, quando a fumaça tiver baixado, haverá um colorido diferente no chão, um cheiro diferente no ar. Talvez seja a hora de começar a sentir medo, mas estou feliz. Estou eufórica com o porvir. Todas essas novidades, um jardim repleto de boa sorte, o olhar descansado e a boca corada, nem parece que sou adulta. Talvez não haja mais tempo para ser. Sinto como se tivesse voltado no tempo, tudo o que sempre desejei se tornou real. Nós sabemos que isso não vai durar muito tempo. Nós sabemos que talvez nada disso aconteça, que talvez seja apenas um delírio cotidiano, igual a todos os outros. Mas talvez eu realize algo grandioso, igual sempre disseram que eu realizaria. Algo que toque a alma de cada animal na humanidade. Eu vejo todos esses mártires e suas bárbaras proezas. Eu os sigo como exemplo, enquanto os outros continuam a linchá-los postumamente. É uma sensação muito agradável essa. Esses arrepios, a visão de um mar de sangue... Os órgãos espalhados pelas paredes, a maciez ao tocá-los, a maciez ao mordê-los. Parece delicioso... Tudo o que está porvir parece muito empolgante e consolador.