Monday, November 18, 2013

Sunday, September 01, 2013

Escondida



Algumas dizem que está no meu rosto,
Está no meu jeito de andar, no meu olhar.
Elas dizem que sempre souberam
E que, não importa o que eu faça, sempre saberão.

Não há fuga, não há escapatória,
Elas sempre saberão quem eu sou.
Elas sempre saberão quem somos.
Não há como esconder, não há como mudar.

O batom na boca, a bolsa no ombro,
Tudo como manda a etiqueta.
Me fantasiando de alguém que eu não sou,
Vivendo num mundo ao qual não pertenço.

Me vestindo de monstro,
Usando o cabelo para esconder o rosto,
Há algo na minha essência
Que continuará lá, intocável.

Aguardando para ser descoberto,
Redescoberto, escondido de novo,
E então exposto.
Há algo na minha alma que não mudará.

Elas olham para mim, falam de mim,
Sei que algumas nutrem um desejo oculto,
Escondido de todos os outros.
Outras mostram sua repulsa,
Elas têm medo de mim...

Pois eu não sou o que deveria ser,
Eu não sou como elas,
Somos diferentes, pensamos diferentes,
Opostas dos desejos aos medos.

Eu me escondo nessa fachada rasteira,
Nesse armário de cristal,
No qual você pode me ver
E pode falar para os outros sobre mim

Eu me escondo,
Não por vergonha ou preguiça,
Ou constrangimento,
Eu me escondo por medo.

Medo da exposição à qual serei colocada,
Medo da violência, que já sofro
Mesmo trancada aqui dentro.
Medo que você não olhe mais para mim...

Há tantos motivos para não falar,
Há tantas razões para continuar assim,
Sozinha, enquanto o mundo muda lá fora,
Enquanto o ar não acaba aqui dentro, fica rarefeito...

Eu penso “por quê tudo teve que ser desse jeito?”



Wednesday, July 17, 2013

Esteriotipos


Eu não quero ser um esteriótipo. Tenho fugido disso há tanto tempo, tenho feito o meu melhor para me esconder. Não quero que descubram. Não quero ser um esteriótipo e ter que tentar adivinhar o que pensam de mim. Eu sei que as coisas não são tão difíceis
. Sei que o mundo não vai acabar. Mas também sei que há muita raiva e ódio internalizados e não quero arriscar. Tenho muita coisa a perder e o armário é o meu esconderijo. Não entre, não me tire daqui. Não quero ser um esteriótipo e representar as lésbicas como um esteriótipo. Não quero isso. Não quero assim. Eu faço tudo o que posso para apagar todos os sinais, todos os resquícios de quem eu sou. Não faço as unhas, mas uso maquiagem. Não faço academia, mas mantenho a forma. Não namoro meninos, namoro meninas. Então porque não me deixam em paz? Eu não sou um alvo, não quero ser um alvo. Me deixem em paz e permitam que eu passe despercebida pelas suas vidas. Há tantos velhos, homofóbicos e evangélicos lá fora. Não quero que eu, minha namorada e meus filhos, que um dia nascerão, se tornem alvos fáceis por causa da minha masculinidade. Só quero que me deixem em paz, aqui, escondida dos seus olhares e comentários maliciosos. Protegida de toda a humilhação que há lá fora.

Sunday, July 07, 2013

Medo


Olhe ao seu redor. Olhe ao seu redor. Olhe ao seu redor. A redenção se torna medo e o desconhecido invade o espaço ao seu redor. Eu tenho medo. Tenho muito medo. Mas sei que estão aqui. Fechei todas as janelas, tranquei todas as portas, coloquei os cachorros para fora de casa e o gato para dentro do quarto, ao meu lado, para me proteger do inevitável. Olho pelas frestas esperando ver o que não quero ver. Olho fixamente para os pontos, mas se algo se esboça eu viro o olhar. Meu coração dispara com seu próprio batimento. E me assusto com meu próprio reflexo no espelho. Tenho medo, tenho tanto medo. Estou apavorada. Eu sei que não há como fugir, sei que não me farão mal. Mas ainda assim tenho medo. Eu sei que isso deveria ser algo bom. Eu faço parte de algo muito maior e parte de mim ajudará algo que está além de tudo isso. Mas por que sinto tanto medo? Eles não me deixarão lembrar, tudo não passará de um sonho que será esquecido. Não vai doer, não vão deixar que doa. Eu sei disso. Mas a noite é escura demais para tanta luz... 

Saturday, June 29, 2013

Morgana


Minha querida garota,
A sua essência tem sido vítima de denúncias,
Desaprovações e repressão.
A sua essência tem sido vítima do mundo,
Mas se mantém intacta e incorruptível.

Eu jamais pensei que encontraria alguém como você
Eu era igual a você
Antes de me despedaçarem em farelos
Eu era igual a você

Mas você, apesar das marcas no rosto,
Apesar das marcas no coração,
Se mantém intacta.
E toda sua inocência, toda sua compaixão,
Seu carinho e afeto pelo mundo
Me comovem.

Não posso te dizer isso
Pois não temos intimidade suficiente
Você, e seu nome lendário,
Seu sobrenome báltico,
Como é possível que você exista?

No futuro, os religiosos se questionarão
Como alguém pôde preservar tanta pureza
Frente a tantos problemas.

O universo se expande
E as leis de física se chocam
Com toda a sua bondade



Sunday, June 23, 2013

Recomeço


Há poucos segundos passei por essas mesmas ruas .. e agora tudo mudou. Os galhos das árvores, as placas de trânsito, o asfalto, a calçada. Tudo mudou. Eu mudei. Não sou mais quem eu era e voltei a ser o que costumava ser. Voltei a ser o que fui projetada para ser. Olhe para mim. Olhe nos meus olhos e responda: quantas vidas as estrelas, lá longe, lá no céu, salvaram? Quantas vidas já vivemos enquanto elas apenas nos assistem morrer? Somos tantos, somos tão grandes, tão grandes, tão grandes! Tão grandes na nossa pequinês. Somos gigantes. De que outra forma eu poderia ter compreendido isso? É uma verdade tão fácil e disponível que ninguém consegue entender. Agora que tudo voltou ao que deveria ser, a minha vida recomeça...



Sunday, June 02, 2013

A Verdade



Tudo o que há de bom passa pela janela. O sol atravessa o céu, os cachorros vasculham as ruas e as folhas caem no gramado. O mundo caminha e a vida segue, como sempre seguirá, nos pormenores cotidianos. Os pássaros assombram a cortina com seus vultos, as pessoas passam pelo meu carcere monetário conversando trivialidades, o vento sopra a canção da liberdade e tudo o que eu posso sentir disso são as gravuras feitas pela luz no carpete do escritório. As luzes estão vivas. Por que nos preocupamos tanto com o desimportante? As pessoas se cegam, se rebaixam, se devoram. Canibalismo corporativo, canibalismo social. Lá fora existe um universo  com estrelas, nebulosas, galaxias, cometas, buracos negros, discos voadores, luzes, planetas e asterismos. E nem olhamos para o céu, nem olhamos para nós mesmos, para os outros. A vida está passando pela janela... enquanto fabricamos dinheiro. 

Saturday, June 01, 2013

22 anos


Hoje é meu aniversário. Muitos anos se passaram desde que eu nasci.
Dez anos se passaram desde a idade que eu sempre quis ter. Hoje sou dez ano mais velha.
Me odiavam naquela epoca. Me odeiam hoje. E me odiarão daqui há dez anos.
Tudo o que eu relo se destroi, se despedaça.
Mas ainda assim, nesse dia comum, posso dizer que sou uma pessoa de sorte.
Alguns considerarão minha sorte um azar, mas para mim ainda assim é sorte.

Lá de cima, com olhos cientificos, estão me observando. Não sei o que querem, mas sei que estão olhando pra mim... 

Tuesday, February 26, 2013

Barreiras



E o ápice já passou
Se a vida fosse um gráfico
Agora viria a queda
Da glória à derrota
Eu rezo
Mas não acredito em rezas
Que venha um câncer
Uma doença ou um acidente
Que me afaste desse mundo
Por algum tempo
Ou se possível
Que me torne inapta ao trabalho
Mas apta a vida
Por muitos anos
Quiçá pra sempre
Estou cansada
De tantas humilhações
E constrangimentos
E desilusões
Me jogaram aos leões
E agora
Sou devorada lentamente
Dia após dia
Mas estou viva
Eu ainda estou viva
Posso sentir
Posso gritar
E se não fosse por você
Eu já não estaria aqui
Eu não quero mais ficar aqui
Mas não quero te deixar sozinha
Só vivemos uma vez
Só uma vez
E eu desperdicei
Todas as minhas chances
De viver








Monday, February 11, 2013

Todos nós

Venha com todas as suas armas
Todo o seu desprezo
E descarregue sua munição em nós
Venha com toda a sua força
Chame seus amigos
Seus companheiros na luta
Pela nossa negação
E estraçalhe a todos nós
Venha até nós
Com pedras nas mãos
E facas na língua
Venha e nos devore
Nos restrinja à sarjeta
Ao lixo, à escória
Condene nossa alma ao inferno
E a nossa vida à escuridão
Corte a nossa luz
Apague nosso fogo
Incendeie nossas casas
Nos expulse de cada emprego
Faça com que passemos fome
Com que sejamos presos
E condenados
Estrupe o corpo e a mente
E, no seu discurso diário
Que ecoa pelo Governo
Pela Igreja e pelas escolas
Pelas ruas
Diga ao seu rebanho
Que a culpa é nossa
Que nós escolhemos essa vida
Que nós merecemos isso
Que nós estamos errados
E que vocês estão certos
Cegue os olhos de todos
Faça com que nos ignorem
Faça com que não nos vejam
Negue a nossa dignidade
E a nossa batalha
E a nossa felicidade
Ainda assim
Nós estaremos aqui
Escondidos embaixo das pedras
Que vocês jogaram
Nós ainda estaremos aqui
Vocês podem não nos ver
Podemos passar ao seu lado
Olhar para você
Mas você não nos verá
Você não quer nos ver
Após tantas surras
Podemos até ser invisíveis
Mas ainda estamos aqui