Sunday, December 23, 2007

Clichê.




O botão
Que desbota o limiar
Do meu coração
Desabotoa minha
Tristeza militar.
Sempre á espreita,
Sempre à direita,
Pronta para desabrochar.
Em lindas
Pétalas
Vindas de lágrimas
Perpetuas
Prestes á desaguar
Na carcaça mórbida
Do meu desgosto
Do meu amor morto
Desde sempre
Perdido
Esquecido
Em algum lugar
Do seu olhar.

Monday, December 03, 2007

Um desabafo que você não vai ler.



Se há algo que me mata mais do que as aulas, esse algo são as férias.
As aulas são destrutivas, as férias são autodestrutivas.
No período letivo eu não tenho tempo para pensar (ou viver), o que deixa as coisas em seu lugar. Entretanto, a rotina, as pessoas, as situações, tudo aquilo acaba comigo.
Nas férias eu sinto o tempo escorrer pelos meus dedos, eu vejo o sol ir e vir no seu ciclo altivo e impermeável todos os dias, eu me entedio enfrente á televisão, eu me cego na frente dos livros, eu me canso na frente do computador e eu me acabo com meus pensamentos. Ou eles acabam comigo? As coisas giram dentro de minha cabeça, todas as idéias, todos os planos irrealizáveis, a mesmice poética dos dias, o acordar e ir dormir sem ter feito absolutamente nada de útil a não ser converter o oxigênio em gás carbono, e as coisas acontecendo, e a vida andando, e eu sendo incapaz de me mexer da cama, seja por preguiça, seja por medo da vida. Nas férias, ela se mostra tão letal e irresistível. Quase tão letal e irresistível quanto a preguiça. E as duas se espreitam em minha mente, e tudo gira, e tudo pisca, e as dores de cabeça voltam. Eis aí um ótimo período para meter um tiro no meio da cabeça, ou um corte entre o pulso.
E eu realmente não sei mais o que fazer. Viver tem um peso insuportável. As dolorosas férias vão acabar cedo ou tarde, a virão as aulas com suas injustiças e horrores, com todas as fofocas sobre o gatinho da balada ou sobre o circulo trigonométrico, e toda a inveja, o desprezo e as intrigas ridículas e infantis ás quais me dou ao trabalho de participar. E tudo, absolutamente tudo, vai estar no seu lugar. As arvores da praça XV não se mudarão de lugar nesse período de tempo, a padaria e os capuccinos pelando, e as pombas vão continuar levando chutões nas sarjetas das ruas, e os dvds da Saraiva ainda serão inacessíveis para mim. E nada vai mudar. Nada nunca muda. Nem o sol, nem a lua, nem os dias que demoram tanto pra passar.

Friday, November 30, 2007

Umbigo.




O umbigo se sentia excluído.
Tudo naquele corpo tinha sua utilidade. Menos ele.
E todos faziam questão de demonstrar publicamente sua hostilidade para com o miserável.
As veias, malditas, que eram os cabos de fibra óptica do corpo, o zombavam.
A carne, infeliz, que era a polpa madura do corpo, o caçoava.
E os nervos, desgraçados, que eram as engrenagens do corpo, o chacoteavam.
Sem falar dos órgãos altivos e sanguinolentos que, se ele permitisse, seriam capazes de lhe cuspir na cara.
As células, velhas ou novas, frequentemente perguntavam-lhe: “Qual a utilidade de um furo no meio da barriga?”. E ele, envergonhado, encolhia-se em seu próprio orifício.
Os únicos amigos do umbigo eram os pêlos grandes, grossos e crespos que cresciam na vizinhança da barriga. Muitos deles costumavam pinicar-lhe as dobras, mas ele sempre os perdoava. “Pobres pêlos... estão precisando de uma aparada.”
E a cada circulada do sangue, o corpo se revoltava cada vez mais com a sua presença desnecessária. “Umbigo inútil! Para que te queremos?!” roncava o estomago por detrás da pele gordurosa do umbigo. “De buraco já me basta eu!” berrava sonoramente o ânus do outro lado do corpo. “Tu não passas de uma cicatriz dispensável, umbigo!” gritavam as vísceras.
Cabisbaixo, a cada ofensa, o umbigo encolhia-se mais e mais para dentro do corpo.
Até que relou no intestino. E esse, bravo pelo ultraje do ato, empurrou-lhe com todas as forças de seus tentáculos gelatinosos para frente. O estomago, pâncreas, fígado e até mesmo as costelas, trataram de apoiar a atitude do intestino e ajudaram-no a empurrar o umbigo maldito para longe. Em menos de meio minuto, todos os órgãos perto das redondezas do alvo, empurravam-no para fora, e os que não podiam participar, ficavam na torcida, gritando injurias e ofendendo o umbigo. E ele, já triste e conformado, deixava que o banissem com toda a passividade possível, e até os ajudava, inclinando-se para frente, a fim de facilitar a expulsão.
E após dois minutos de frenético movimento de tripas e veias, a pele cedeu e o umbigo despencou do corpo. Entretanto, não contavam que nele, estivessem grudadas algumas veias que se ligavam ao fígado, e no fígado estava escorado o pâncreas, que no brusco puxão rasgou o diafragma que sustentava os pulmões e o coração, que no impacto, levaram consigo o intestino, que se entrelaçou com alguns nervos, e estes puxaram junto a bexiga. E, pelo buraco que se formou no centro da barriga com a queda, todos os outros órgãos arrastaram-se um ao outro até espatifarem-se completamente no chão, desconstruindo todo o organismo, que demorou nove meses para ser edificado, com a ajuda, em especial, de um cordão umbilical.

Sunday, November 25, 2007

O morto mais lindo do mundo.




I

Quando viu o corpo na mesinha de operação pensou que fosse algum funcionário do hospital e que aquilo não passava de uma brincadeira sem graça. Só quando olhou a ficha do paciente, um arrepio subiu-lhe á nuca, e pôde comprovar que de fato se tratava do morto.
Nesses nove anos de profissão, jamais tinha visto um morto tão belo e bem conservado. Estava realmente morto, a falta de pulsação indicava isso. Mas, algo nos globos brilhantes de seu rosto contradizia sua situação. Tinha-se a sensação de que a qualquer momento ele iria deixar escapar um respiro, um piscar de olhos, um bocejo, um espirro.

Em todo o caso, o trabalho não podia parar. Ela foi até o armário onde guardava suas ferramentas de trabalho, tirou de uma das gavetas um bisturi, e seguiu em direção ao morto. Marcou, com uma caneta, um pontinho um pouco abaixo do pescoço, e outro no umbigo do morto.
Posicionou delicadamente a fina lamina na pele macia dele, tentou empurrar o bisturi estomago adentro, mas aquilo lhe parecia tão profano que não o foi capaz.
Que direito tinha, ela, de machucar aquele corpo incrivelmente belo, que apesar das falências vitais, ainda emitia um frescor tão vivo e irresistível? Um simples corte seria capaz de danificar a imagem perfeita que tinha a sua frente.

Não era possível que estivesse morto.
Aquele corpo feria seu orgulho. Por sua mesa de cirurgia já havia passado corpos falecidos em acidentes de carro, em acidentes de avião, envenenados, esfaqueados, suicidas, deformados, homicidas, decepados, decapitados, baleados. Mas nunca, nada jamais comparado aquilo.

Parecia um santo, um anjo, Deus personificado apenas para o seu prazer visual.





















II

Não foi capaz de terminar, sequer começar, a autopsia. Estava tão perturbada com a imagem do defunto que também não pôde dormir. Passou a noite em claro, esperando que o amanhecer iluminasse suas idéias. Mas, na manhã seguinte, assim que voltou para o necrotério, e percebeu que o corpo não estava mais lá, entrou em pânico.
Saiu pelos corredores gritando e praguejando aos quatro quantos do mundo. Perguntando para o ar quem havia tirando seu amado de lá. E obteve uma resposta seca e comercial do diretor do hospital “houve uma pequena confusão nos papeis do falecido, não se sabe como ou onde, mas trocaram sua ficha com a de outro, sendo este estava em outra instituição, portanto, a troca foi feita e agora tudo corre bem”.

De certo modo, ela ficou feliz com a resposta. Aquele morto era tão enigmático que cedo ou tarde iria causar-lhe problemas externos, ou internos. Voltou á rotina, com todos os
Bisturis e
Cadáveres e
Órgãos e
Fichas e
Pacientes e
Recibos e
Doutores e
Alunos e
Parentes inconsoláveis e
A morte e
(Essa sim, sempre por perto)
E...





















Faltava algo...

III

Mesmo com todos os calmantes e antidepressivos, ela não conseguia se concentrar. O trabalho se tornou quase tão destrutivo quanto a lembrança do morto. A rotina entrava junto com os raios de sol pela janela, despertava o despertador e circulava ao seu redor durante todo o dia. E lhe doíam todas as fibras do coração. E lhe doíam as pessoas, com suas usualidades e casualidades. E a vida lhe doía.

Estava tão transtornada com o encontro com aquele anjo em decomposição que a vida não merecia ser vivida se não ao lado dele.
Na mesma noite, se dirigiu quase que como uma sonâmbula, ao cemitério. E desenterrou todas as covas que pode. Passou as mãos empapadas de sangue e barro pelos olhos, para se confirmar que não estava sonhando, e não estava. Ás quatro da manhã, após uma busca frenética que transformou o cemitério em diversos buracos gigantes com gigantes trincheiras de terra fofa, ela havia encontrado seu amado.
Deitou-se ao seu lado no caixão apertado e untado com os líquidos verdes e nauseabundos que o corpo dele expelia, posicionou a cabeça em seu ombro nu, e dormiu. Sonhou com a estreiteza de sua vida, de seu corpo, de sua beleza, e de sua morte comparadas ás daquele corpo. E todos os homens, e todas as mulheres, e até mesmo Deus seria incapaz de emitir uma luminosidade tão viva como ele. E ela daria sua vida, em troca de viver a morte ao lado dele. Pois até mesmo a morte, só seria digna, se fosse com ele.

Wednesday, November 21, 2007

Thursday, November 15, 2007

A Lombriga de Luíza




Daquele tipo de amor que só reservamos para a pessoa certa. Entre todas as faces tristes e pintadas nas ruas só uma será digna de recebê-lo.
Entre todos os olhos murchos e frios, entre todas as vísceras possíveis, foi justo nas de Luiza que se plantou a semente maldita.
A semente concebida a partir do mau hábito de comer terra. O croque-croque dos grãozinhos moendo-se entre os dentes e o gosto de pedra preso na língua sempre lhe foram irresistíveis. Não que não a tivessem alertado desde o principio sobre as conseqüências de tal paladar. Mas conseqüências só são conseqüências quando se concretizam.
Concretizou-se uma lombriguinha em suas tripas. E na lombriga de suas tripas, concretizou-se um coração. Um coração humano em um corpo de verme.
Alimentando-se das decomposições e nadando nos azedos sulcos gástricos de sua portadora, veio-lhe a idéia torta e fatal, de que aquele corpo vermelho ao avesso, era na verdade, sua mãe. E amou aquelas estranhas entranhas mais do que a si própria.
Devorava-lhe pequeníssimos pedaçinhos das vísceras, abria túneis para as partes até então desconhecidas daquele gigantesco palácio de carne viva e pulsante. Até que, no meio daquele emaranhado de tripas, descobriu um coração. Um frenético coração gelatinoso e elástico costurado com veias verde azuladas. O coração de sua mãe: Luiza.
E novamente uma torta idéia aflora em seu minúsculo cérebro. Estaria o tão almejado amor de sua genitora escondido no fundo de seu órgão mais pulsante?
Mas uma forte sucção sugou-a para baixo, revolvendo o caminho que havia feito antes, revolvendo entre as fendas abertas por ela no estomago de Luiza, revolvendo para as feridas ainda sangrentas no tecido do intestino, e foi sugada através de um feixe de luz.
Quando se deu por si, estava flutuando em uma água transparente e inodora, muito diferentes dos líquidos gosmentos e nauseabundos aos quais estava acostumada. E numa distancia inatingível para ela, estava sua amada mãe, olhando-a com uma cara asquerosa.
E foi olhando-a com todo o desprezo que se pode oferecer á um verme, Luiza puxou a cordinha da descarga.

Friday, November 02, 2007

amanhã?



os dias vão me ignorar...

ontem.


eles sufocaram toda a minha vitalidade.
há um ano atrás eu sentia a brisa da vida bater no meu rosto.
hoje, eu sou um cadaver ambulante.
uma me afogou nas gotas de suor de suas folhas sufites e não permitiu que eu vivesse.
outra cortou todas as correntes que pudessem me puxar para fora.
e a última arrancou meu coração enfrente de todos os outros.
elas acabaram comigo, Roberto!

quando?


Thursday, November 01, 2007

o que é a vida, não é mesmo, minha zenti?



Eu não quero
Porém
Um impulso
Irresistível
Faz-me arrancar
O pulso
Continuo
Que insiste
Em
Perturbar.
Uma
Lamina limpa
Uma
Ponta afiada
Que
Risque a fina pele
Envolta
Do relevo
Pulsante.
Faça
A verde-veia
Frenética
Da vida
Parar
Minha existência
Fodida
Se esvaziar
Junto
Com o sangue
Explodido
Retido
De reter.
Agora sim
Só me
Resta
Morrer...

Saturday, October 20, 2007

texto descritivo





Nos alvoreceres de outubro o céu é tão escuro quanto o asfalto das ruas.
As arvores cujas verdes folhas foram estraçalhadas pelos gélidos ventos do inverno, para logo em seguida apodrecerem no calor insistente da primavera fora de hora, vingavam-se das pessoas projetando suas sombras grotescas e medonhas contra as paredes de tijolo das casas mal-projetadas do bairro, intimidando assim, boa parte das almas vagabundas que vadiam pelas redondezas.
Escondida pela escuridão, uma senhora mirrada espera o ônibus com seu vestido florido e desbotado. Em uma mão tem as moedinhas para a passagem, em outra um pedaço de pão amanhecido que veio engolindo durante o trajeto. De quando em quando o vento remexe as folhas e esquiva de seu rosto magro as sombras, deixando-o banhado pela amarelada e anêmica luz do poste. Nesses momentos, percebe-se sua pele morena cozida em fogo lento pelo sol dos dias de trabalho durante mais de meio século, os olhos cansados e envoltos pelas carnes das olheiras secas e enrugadas esperam ansiosos pela chegada do ônibus, enquanto a boca contornada com batom vermelho devora com seus pequenos dentes mais um pedaço do pão. A mão que leva o pão á boca mostra-se repleta de calos e os ossos em relevo costurados com nervos e veias azuis deixam-se ver,ainda que cobertos pela pele ressecada e escassa.
Eis que os opacos faróis do ônibus adentram a escuridão com feixes de luzes empoeirados, o ruído do motor quebra o silêncio da madrugada e afasta as pedrinhas soltas no asfalto. A senhora sobe os degraus sujos com disfarçado esforço e junta-se á multidão de trabalhadores anônimos espremida no interior do ônibus.

Thursday, October 18, 2007

Vácuo



O que há
Entre a minha casa e a sua?
Todas as mulheres
Todas as ruas,
Todas nuas.
Cada pensamento
Já pensado,
Deixou-se perder no passado.
Deixou-se pensar
No vácuo
Do seu olhar.

Wednesday, October 03, 2007

“O tempo dá voltas em si mesmo” (incompleto)





Do leito que nos persegue;
O berço do nascimento, a cama das insônias, e o caixão da eternidade.

Saturday, September 22, 2007

O Tempo.




É a manifestação máxima de Deus. O tempo não passa, existe. Existe por entre nossas entranhas, unhas e fios de cabelo. Por entre as folhas verdes e os frutos podres das árvores. Por entre as farras e as desgraças dos gatos e das abelhas.
Não somos capazes de sentir o tempo. Os dias passam, as noites vêem. Mas são apenas efeitos da natureza. O tempo escorre nos sulcos de nossas olheiras. Cada coisa tem seu prazo de vencimento. Não é Deus quem comanda nossas vidas, mas sim o grande Senhor Tempo. Estamos todos ligados pelo Tempo. O tempo de nossas vidas, o tempo de estudo, o tempo para se assar um bolo, o tempo para deixar a roupa de molho, o tempo para ignorar um amor, o tempo de curso para se adquirir um diploma, o tempo para nos cadáveres surgirem odores, um tempo para cicatrizarem as dores.
O tempo comanda discretamente o universo. Ele que explode e implode o big-bang,
Que nós criamos. Nós criamos o tempo também, do mesmo modo que criamos Deus.
Em “Como me tornei estúpido”, livro tão apelativo e estúpido quanto o próprio titulo, dizem “a inteligência é um erro na evolução”. “Não devíamos estar usando computadores, mas sim caçando javaris.” “Entretanto, em algum lugar do tempo e do espaço, o homem começou a pensar.”

O tempo e o espaço criou o homem que os criou.

Os animais não tem consciência de seu tempo de vida. E quando sabem que a morte começa a lhes bater na porta, honrosamente, se recolhem á um canto e morrem em paz.
O ser humano algum dia descobriu o tempo e o chamou de Deus. (Seja o que Deus quiser, Seja o que o tempo quiser).
O tempo, sim, comanda nossas vidas e mortes.
O tempo, sim, é imortal.
Cedo ou Tarde (é o tempo quem dirá) os governos sumirão, as geleiras derreterão, o homem se extinguirá, e após milhares de ano de conhecimentos e descobertas insignificantes, apenas o tempo sobreviverá, para lembrar-se de esquecer de nós.

Friday, September 21, 2007

Mas eu não entendo.


Parou.
No que parou o mundo desabou.
Os olhos ao seu redor a perseguiam.
As pessoas e suas auras vazias a seguiam.
Os corpos caiam por seu caminho.
E as árvores flutuavam por entre os porcos e seus espinhos.
Cada passo seu tremia alguém á sua frente.
Cada passo seu afogava as lágrimas de alguém á seu verso.
Viravam-se ao inverso.
Corações, pulmões, pâncreas, intestinos delgados, soltos, presos.
Luzes cintilantes,
Dentes cabeludos.
Tudo!
De que me valem pensamentos que se evaporam em meu cérebro?
Elevaram-na até os telhados da catedral, prenderam-na ao sino mofado.
E as baladas daquele 12h00min soaram diferentes.
Ecoaram nas cabeças de toda aquela gente.
E todos os pensamentos do mundo
Evaporaram-se.
Tais quais
Os animais.

Sunday, August 19, 2007

será?

Saturday, August 11, 2007

A Porta


Por mais que pressionasse,
Ela estava trancada.
Ela não queria que Ele entrasse.
Mas deixou o buraco da fechadura aberto.
Ela o nocautearia pelo olhar.
Enquanto Ele esbofeteava seus punhos contra a dura madeira.
Ela bebia e cantava.
Ele batia e chorava.
Por vezes, Ela destrancou a fechadura.
Mas não conseguia girar a maçaneta.
Não havia maçaneta do lado de fora.
Não havia saída do lado de dentro.
E ela sabia disso.
Ele não. Ele esperava por ela do outro lado.
Ele esperava por ela com um sorriso, um coração e flores frescas.
Ela não esperava nada.
Apenas um copo cheio de álcool e caixinhas rosas de calmante.
Ele sentou no degrau da porta.
Seu corpo ardia de febre.
Ele sabia que morreria se ela não abrisse.
Ele tentou morrer.
Mas as flores secas não deixaram.
As flores secaram.
O coração Dele murchou.
Ele derramou suas últimas lágrimas.
Sentado no tapete enfrente a porta.
Ele desceu os degraus e foi embora
Quando ela rodou a maçaneta.
Ele não estava mais lá.
Ela tentou descer as escadas
Ela tentou correr atrás Dele.
Mas Dele só sobraram flores secas.
E a porta a trancou dentro de si mesma.
Ela procurou a saída.
Procurou até vomitar.
Procurou até seus punhos amassar.
Encontrou uma janela com vidros embaçados.
Encontrou:
Jogou-se a procura Dele.
Mas ele não estava mais lá.
Ele estava na porta com flores secas.
E ela estava lá fora.
Lá fora.


Esgoto



Das arvores coleciono galhos,
Das flores apenas flores,
Pedaçinhos de papel com escritos falhos,
Plástico de bala em diversas cores.

Escorro por entre a vida humana,
Bolhas de sujeira borbulham de mim,
E em minha existência mundana
São escarrados excrementos sem fim.

Corro livre e sem medo,
Não há nada que me pare.
E se algum reclama que fedo
Surgirá outro que exclama: “Pois nem me fale.”

Estúpidos!Eles não percebem
Que sou o esgoto criado
Por suas ambições que não se medem.
Sou a veia que leva os ecos miados
De sua perfeição mal-feita,
sou seu esgoto-desgosto mal-amado.
Sou a veia que pulsa perfeita.

Saturday, July 07, 2007

Friday, July 06, 2007

Momentos.




AR
Adoro o ar.Adoro respirar.Quando medito fecho a respiração e sinto cada pedaçinho de meu corpo se contorcer para roubar o pouco de ar que o sangue pode disponibilizar naquele momento.Se eu fosse uma artista plástica,inventaria um ar colorido.Um azul e um vermelho.O azul respirado por um homem e o vermelho respirado por uma mulher,vaporosamente expirados,juntos,daria um hidrogenio lilás.Mas não sou artista,nem cientista,e a única coisa que eu tenho em comum com essa gente é a megalomania.
CÉU
Antigamente,eu deitava no chão sujo de concreto na garagem á céu aberto,e ficava admirando as estrelas.Eu sentia um alivio sufocante em ficar daquele jeito.Era como se minha alma,ignorando a gravidade,se desprendesse de meu corpo e caissem no infinito universo á minha frente.Eu acho que as pessoas nunca pararam para pensar,mas estamos de ponta cabeça na terra,andamos,comemos,dormimos,trabalhamos de ponta cabeça,o céu é o chão,a terra é o teto,é o limite,o finito.Não importa se é China ou Brasil,estamos de ponta cabeça,e caso nossos pés saiam de nossos sapatos,cairemos no infinito,no céu.Cairemos da terra em rumo ao nada.
COMIDA
Eu adoro couve refogada.Adoro a tal ponto que eu não me importaria em come-la até me entupir (ou engasgar)Eu tenho essa mesma sensação com o milho cozido.Queria comer,engolir,senti-lo escorrer pelo canudo de minha garganta até descer em meu estomago.
ÔNIBUS
As senhoras morenas idosas do fundo do ônibus me irritam.Eu as amava,as admirava.Agora meu único desejo é que o ônibus capote na curva do trevoe que esmague seus miolos,olhos,braços e peitos flácidos,para que assim calem suas palavras estúpidas e cheias de erros alfabéticos.Antes,suas palavras vaporosas se fundiam com meus pensamentos megalomaniacos,e a fumaça do onibusnos consumava.Eu as adorava,as admirava.Agora meu único desejo é que morram!
ELA
Ela tinha sangue vermelho correndo por debaixo da pele vermelha de seus dedos vermelhos.Tão vermelhos que ardiam dentro de mim,o fogo corria por entre minhas entranhas,e de nervo em nervo,atingia meu coração.E em um suspiro agudo e timidoeu engolia todo o ar que acabara de passar por seu corpo.É uma pena que ela não tenha me visto por de trás de seu castelo de superioridade.Eu teria lhe dado um coração vermelho de dor.
PESSOAS
Eu desco do ônibus e vou a escola,ao shopping,a videolocadora,a lan house,a praçinha,a catedral,ao museu,a biblioteca com uma mascara de inexpressividadeue atriz nenhuma no mundo seria capaz de imitar.Eu ando por aí com olhar fixo para a frente.Ás vezes,durante meu percurso alguém me encara e abaixo a cabeça e quando sou eu quem encaro alguém viro o olhar.Pois sei que seus olhos vazios e os rostos sem alma das pessoas que perambulam por aínão são suficientemente bons para chamar minha atenção.Esses serezinhos auto-denominados pessoas são tão banaise estupidos.São estranhos,mais estranhos para mim do que eu para eles.A imbecilidade generalizada e alienante me dá nojo,me causa arrepios e ataques epiléticos.Em seus rosto hepátiticamente amarelos eu vejo a desgraça da humanidade em todos os estágios da vida.São impiedosos em sua miséria.Eu quero salvar a humidade de todos os maus.Eu quero acender o pávio da dinamite e explodir nas estranhasde cada corpo inútil que vaga sem rumo pelas ruas dessa cidade.

Tuesday, June 26, 2007

Assimetria.


afinal,
o mundo é assimétrico! (e é quadrado também)

Friday, April 27, 2007

Cabeça

Um dia acordei em minha cama coberta edredon de flores multi-coloridas e bregas,a luz do sol escorria pela janela,os passarinhos piavam Bach e as flores cheiravam á Chanel 5.Dava pra ouvir mamãe derrubando acidentalmente as panelas no chão,enquanto eu me espreguiçava.Tudo em seu devido lugar,menos uma coisa essencial: Minha própria cabeça!!
Meu Deus! O que teria acontecido? Será que dormi de cabeça para baixo,e a gravidade impiedosa fez efeito,arrancando-a de meu pescoço?Ou talvez,durante a noite enquanto eu tinha meu sono profundo,um ET,monstro,bicho-papão,duende,ou qualquer outro destes seres inexistentes adentrou minha casa,meu quarto e maravilhado com a imensa sabedoria guardada em meu cerebro,tenha levado minha cachola como reliquia para ser exposta em seus museus intergalaticos?!
Em todo o caso,não perdi muito tempo pensando no motivo,e tratei logo de resolver a consequência.
Fui até a cozinha,e obviamente,contei a nova para minha mãe,que indiferente ao grande vazio q eu tinha no lugar da cabeça,afirmou com toda a calma do mundo que ela havia ouvido algo cair e quicar no chão durante a noite,mas devido ao seu imenso sono e sua constante preocupação com o que há ao redor de seu umbigo,nem deu muito corda em saber do que se tratava tal barulho.
Fomos nós duas procurar pela minha cabeça casa á fora.
"Não deve ser dificil achar uma cabeça perdida por aí",pensamos nós...mero engano.Procuramos da manhã ao finalzinho da tarde,e nada!Nada!NADA!
Eu já sentia o pouco ar existe em meu pulmão se esvaziar,quando de repente,chega meu irmão Eduardo,com minha cabeça em mãos.De acordo com seu argumento,ele a havia achado ao lado de sua cama quando acordou,ficou maravilhado com aquilo,afinal..não é todo o dia que se vê uma cabeça tão linda bem do lado da sua cama.E levou para a escola a fim de mostrar aos amiguinhos,estes a julgaram uma otima bola de futebol,e ... fizeram o que seus cerebros prematuros mandaram.
Eu,muito feliz com o achado,mandei minha mãe costurar minha cabeça ao meu pescoço,com sua potente máquina de costura Singer 1975.O resultado disto,só fui ver no jantar,quando tudo o que eu comia,vazava por uma fenda mal costurada em meu pescoço...

Monday, February 26, 2007

pensar...


é o maior problema do homem.


Se você não pensa é burro,
e se pensa é cdf.




Não pensar é o caminho para a felicidade,
e pensar é o caminho para a verdade.

Qual dos dois vale mais a pena?

Friday, February 16, 2007

Igualzinho ao Mel.


Luchino era carnívoro ativo,devorava carnes vermelhas,brancas,amarelas,rosas,lilas,azul claro,escuro,celeste e verde-meleca.Leandra era vegetariana,não comia carne vermelha,branca,amarela,rosa,lilás,azul claro,escuro,celeste mas adorava uma verde-meleca.O hobbie de Luchino era cortar carnes.O de Leandra,legumes e vegetais.Os dois se amavam e tinham muitas coisas em comum,entre elas o fato de ambos sentirem um arrepio percorrer suas entranhas enquanto abriam as entranhas dos pedaços pós-congelados de cadavéres e vegetais genéticamente modificados.
Amar é matar.Matar é amar.Se ama matando.Se mata amando.
E,numa noite,depois de um consumo excessivo de carne verde-meleca,ambos decidiram chegar ao máximo do impulso humano sexual.Afiaram suas facas,deitaram sobre a cama e adentraram suas lâminas em suas respectivas carnes.De cima á baixo.Do sexo,ao coração,ao cerébro.Cortaram seus orgãos escondidos por peles,muscúlos,ossos e encontraram o esconderijo de sua alma.Estraçalharam-nas.Beijaram seus segredos escancarrados de sangue vermelho.E abaixo de seus olhos,estava seus corações.Atrás dos olhos sempre existe um coração.Tocar a fonte da vida da pessoa amada era indescritivel.Cada batimento era um espasmo.No fim,suas veias e tripas se misturaram,seus corações se confundiram.E ambos se amaram até a última gota de sangue.
E na manhã seguinte,na banca da esquina do quarteirão da casa de Leandra,saiu a noticia:
"Casal se mata em Piraporinha do Oeste.Causa : Alta quantidade de carne verde-meleca."

Wednesday, February 14, 2007

Eu não sei escrever.


Só sei ver.

Não sei traduzir filmes usando a escrita.


Friday, February 09, 2007

Fast Video






Seria este o mal da geração coca-cola?Agora que sabemos usar (e manipular) as imagens,elas simplesmentes não fazem sentido?Ou será que elas não fazem sentido simplesmente para entrar por um olho e sair pelo outro nas cabeçinhos sem sentido de pessoas que não fazem o menor sentido do que é "qualidade"?Não sei,provavelmente os dois ao mesmo tempo.
O videoclipe é a propaganda destina á propagação de uma banda,propagando-a para todos os lados (e países) do mundo.Seja na Itália,na China,na África,no Brasil ou nos Estados Unidos (afinal,a MTV é um novo "Deus",que além de ser louvada,está em todos os lugares)você entende perfeitamente e sem nenhum esforço esse tipo de video.

Estamos na Era da "imagem pronta",Spike Jonze,Michel Gondry,Stephane Sednaoui,não importa quem o faça e quão grande seja seu pretigio entre os adolescentes e adultos (cults e leigos),os videos são multilados (mais especificamente triturados) para depois serem engolidos (sem mastigar) pelos telespectadores.
É "informação" quente e rápida para ser digerida (dirigida) instantaneamente.É o fast-food televisivo,com grandes gorduras saturadas,açucar excessivo,gosto de plástico e nem um pouco nutritivo.
O cinema espera por isto (?!).A nova geração de cineastas nerds no estilo Woody Allen com imagens (e roteiros Kauffimanianos),com seus "Quero ser John Malkovich","Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças","Mais Estranho que a Ficção"(estes três "deja vú" de si mesmos) "Kill Bills" e "Fabulosos destinos de Amelies Poulains".
Filmes copiados,triturados,multilados,plastificados,embalados,vendidos,comercializados para depois serem rotulados "cults" e jogados numa platereila de uma videolo(u)cadora qualquer.
É o descartavel substituindo a "arte" com cortes rápidos e mensagens futeis.






É uma pena...

Só eu entender o que eu digo.

Chat sobre a Trilogia da Incomunicabilidade e do Silêncio.



Casa comigo,Vitti!


Afinal,como disse Antonioni:"Para quê manter uma relação se não procuramos romper essa submissão aos fantasmas que nos mantém sob suas botas ? Para quê estabelecer uma relação conjugal que vai me tratar com tanto desprezo quanto o mundo já me trata ?"


Então Vitti diz:"Gostaria de não amá-lo ou amá-lo muito melhor" em O Eclipse


E Dylan Thomas diz:"Alguma certeza deve porém existir, se não a de amar bem, ao menos a de não amar"


Antonioni diz: ... (ele perdeu a voz num enfarte..hahahaahah.......)


E eu prefiro não dizer nada á expressar meu infinito desprezo á vocês (sim,vocês mesmos).


E Iñarritu diz:BABEL!


Eu digo:Babel,Amores Brutos ou vazios.Trilogia do Silêncio ou da Incomunicabilidade.Do neo-realismo italiano ao hollywoodianismo americano.Da internet ao telefone.Vamos grunir,gritar,berrar,sussurrar e simplesmente não seremos ouvidos e nem ouviremos.


UM VIVA Á INCOMUNICABILIDADE e AO SILÊNCIO!! (e suas Trilogias)


viva Iñarritu e Antonioni!

Friday, January 26, 2007

Meus Dialogos Mentais Imaginários....

renderam um poeminha:



MEU UMBIGO


Ah! O mundo só será perfeito quando ele couber no meu umbigo.
Alias,o mundo só será perfeito quando FOR o meu umbigo.
Nele só viveriam dois tipos de pessoas: Eu e você. Só,ninguém mais!
E quando isso acontecer,vamos brincar de escorrega nas dobras de meu umbigo,
vamos brincar de pula-pula nas dobras de meu umbigo flácido,vamos dormir e sonhar nas dobras lúdicas de meu umbigo flácidamente sonifero.
Pensando melhor...
O mundo só será perfeito quando for a minha boca apos um HALLs preto,ardido e refrescante.
Assim,vamos poder brincar de esconde-esconde com as caries de meus dentes.
...

Dialogos Mentais Imaginários.

Hoje acordei as 4:30,(en) rolei na cama por 15 minutos e levantei.Peguei o edredon e fui para a sala.Telecurso 2000 é o melhor programa da TV aberta durante a madrugada!Enquanto eu assistia a aula de mecanica em que fiquei sabendo uma desinteressante informação: Existe um equipamente para medir a viscozidade das peças,de acordo com o atrito nelas investido,esse aparelho se chama Viscozometro e para usa-lo basta enfia-lo no tubo e dependente do atrito ele indica a viscozidade da máquina.Legal.Mais ou menos ás 5:00 am,lembrei que eu não tinha jantado noite passada e que a última vez que comi algo foi ás 16:00 pm de ontem."Eu devo estar com fome",pensei,revirei a cozinha e não tinha nada.Revirei a sala,e embaixo do sofá,achei meu tesouro : Uma negresco do mês passado!!Pronto,agora estou satisfeita.A madrugada estava tão linda.Sai,me joguei no chão da garagem e fiquei olhando para as luzes em zigue-e-zague no céu.Que bonitinhas.Depois um carro passou na rua,depois eu (re) lembrei que existe um mundo fora da minha casa.Eu passo dias e dias sem sair daqui,ás vezes,esqueço que existe vida fora do meu quarto.Esse é um bairro grande,com muitas casas,em cada casa tem de 2 á 8 pessoas,e todas estão dormindo enquanto eu olho as luzes em zigue-e-zague,enquanto o carro passa,enquanto eu lembro que elas existem,elas sonham.Que bonitinhas.
Epa,peraí..."bonitinhas"elas não são,não.São uma praga,isso,sim!!!Por que existem tantas pessoas nas redondezas de meu umbigo???O mundo seria perfeito se fosse meu umbigo.E no meu umbigo só eu viveria,eu seria o Deus e a dona de meu próprio umbigo,sem pessoas me olhando torto,sem pessoas esbarrando em mim,sem pessoas,sem pessoas melhores que eu.Só eu.Ninguém mais.Hmn,talvez meu umbigo seja pequeno demais.Façamos assim,o mundo seria perfeito se fosse a minha boca depois de dissolver um HALLs preto beeem ardido e refrescante!Pronto! Mas,eu acho que ficaria mais feliz se a praça XV ás 6:20 am fosse o mundo inteiro,eu adoro aquela praça de manhã,só eu,as pombas e alguns mendigos entendemos a beleza daquele lugar essa hora.Esses dias achei um Café que fica numa construção beeeem antiga 1 quadra acima da praça,quero tomar cappucinno lá quando as aulas voltarem.Coisas antigas me existam!É tão gostoso imaginar quantas pessoas já sentaram naquele banquinho,quantas pessoas já encostaram a boca e sugaram o café daquela xicara,quantas pessoas já pisaram naquele chão,quantas pessoas já pediram "um cappucino com bastante açucar,por favor",quantas pessoas já viveram e tomaram o café da manhã naquele lugar,para depois enfrentar o centro alienante e velho de Ribeirão Preto?Quantas?Quantas delas já ouviram falar de Godard,Truffaut,Antonioni,Fellini,Rossellini,Pasolini,Kubrick...Será que elas fumavam um cigarro e bebiam vodka com café enquanto falavam sobre cinema?Eu queria tanto ter vivido essa boêmia.Mas,infelizemente,nasci na geração do descartavel.Merda!! Nem pra nascer na epoca certa eu presto!


.
.
.


ESTE NÃO É UM TEXTO PARA SER LIDO.
ESTE É UM TEXTO PARA SE AMASSADO E JOGADO NO LIXO.


(eis os meus pensamentos do dia 26 de janeiro de 2007,sexta-feira de manhã)

Monday, January 15, 2007

A Coisificação de Adelaide.

Naquele momento,enquanto olhava as roupas dançando no varal,Adelaide descobriu o caminho da felicidade.

"O mundo é um lugar onde objetos tem mais valor e,de certa forma,'significam'mais do que as próprias pessoas.Por que logo eu fui nascer pessoa?"

E começou a arquitetar um plano para se coisificar.

"Talvez uma porta" pensou "Talvez uma máquina ou até mesmo uma estátua!",não,não...uma estátua não mudaria muito a sua atual condição que é (e sempre foi) ser um objeto de decoração em sua imensa e melancolica casa.
Ela queria ter uma existência mais util.

Decidiu se tornar um computador.
Fez leilão de seus pulmões,figado,intestino,cerébro e principalmente,de seu coração.Trocou todos os orgãos por máquinas capazes de bombar o oxigênio,drenar a comida e distribuir igualmente a energia para todos as poucas partes vivas de seu corpo.
Abriu sua cabeça e lá depositou um precioso processador de ultima geração importado do Japão.

Pronto.

Adelaide agora estava pronta para levar entrenimento e informação para qualquer pessoa que soubesse usa-la.

"É muito mais divertido ser uma coisa sem sentimentos do que um humano triste em frente á uma coisa."

Adelaide agora era um sonho de consumo!

Saturday, January 13, 2007

Romance de Pastelaria - O Amor de Chow Mein e Placidina Del Rey

Numa manhã chuvosa de uma Segunda-Feira de um Janeiro qualquer,Placidina abriu os olhos.Toda demência da cidade grande havia cerrado seus olhos com fumaça,e naquela manhã,ela voltou a enxergar."O mundo é encantador",pensou.Depois se localizou,estava sentada no segundo degrau das Lojas Americanas da Praça XV.
Era tão cedo que os primeiros pombos saiam de seus ninhos improvizados em cima das poucas arvores da praça,para serem pisoteados,chutados e alimentados por humanos apressados que por lá,mais tarde,passariam.
"Que horas são?" pensou,e ao se virar para procurar o ponteiro mais próximo,percebeu que ao seu lado estava Chow Mein.Este,olhava tristemente para baixo com seus olhos molhados e timidos.
E os dois ficaram ali,paralizados por uma paixão sem futuro,olhando os arredores enquanto os primeiros humanos começavam á formar a multidão anônima dos grandes centros urbanos.
_E agora?O que vai ser,Placidita? - Gruniu Chow,com uma vozexessivamente rouca e seu típico sotaque oriental.
_Eu já lhe disse o que será,Chow.Mas...parece que você não me ouve!!
_Eu ouço.Sempre ouvi...Só não aceito.Eu te tirei daquele emprego de merda,te dei comida,dinheiro,teto...amor....para isto?!?!
_Sabe qual o seu problema,Chow??O seu e de todos esse chinezinhos socialistas metidos á capitalistas da tua raça??Vocês acham que o dinheiro capitalista pode socializar o amor de uma mulher!Não pode...Eu sou grata por tudo o que você me fez,mas não te amo,é isso...aceite e vá embora.
_...
E Chow Mein se levantou,caminhou alguns metros sem olhar para trás,e se jogou no chafariz da praça.Placidina,mesmo tendo presenciado a cena,se manteve indiferentemente sem se mexer de seu lugar.Quieta,olhando o nada,na mesma praça,na mesma manhã da mesma Segunda-Feirado mesmo Janeiro qualquer.
Um dia qualquer na vida das pobres pombas puguentas que testemunharam o final daquele romance barato de pastelaria.
Um dia de alivio para Placidina,que agora,tinha sua boceta livre para todos os homens que tivessem 50 reais destinados á ela. Afinal,o amor de Placidina não se compra mas o corpo,sim!!!
Um dia chuvosamente triste para Chow Mein,enquanto ficou no chafarizsua lágrimas se misturaram com a água suja e a chuva d'agua que caia.Ao se levantar,esqueceu sua vontade de viver naquele lugar,provavelmentenuma latinha de Coca-Cola que flutuava por lá.
Depois daquela manhã eles nunca mais se viram...



Placidina voltou ao mesmo puteiro,carinhosamente chamado por seusclientes de boate.
Chow não tinha ânimo para nada,não comia,não se levantava,há não serpara trocar os 2 CDs de tango que Placidina esquecera em cima de sua cama.Um dia,os dois CDs riscaram por completo.Chow preparou um pastel cujo recheio era o perfume dum frasco que Placidina também esquecera lá. Sofria tanto por ela,que sua morte foi amando-a.Enquanto o som cuspiaas notas desafinadas do que deveria ser um tango,Chow deitou-se no chãoda sacada,olhou o mesmo céu nublado daquele dia triste...e morreu de um amor mortal.
E ela,só soube da noticia 2 dias depois,quando retornou á pastelariapara pedir "cenzinho" emprestado em troca de um coração arrependido e cheio de amor.


Não chore,Placidina.