Friday, August 22, 2008

Doze.



Samambaias, pulgas, maçãs, a grama molhada regada no sol que expande as roupas e a lascívia nos finais de agosto. As rústicas cadeiras de madeira, pintadas de vermelho há tanto tempo que a própria cor se esquece. As mesmices diárias da avó, que ás 15h em ponto, pára de tricotar seu tricô e se senta no banquinho sujo do quintal pra ouvir no rádio as noticias diárias da cidade onde nada acontece. Os cachorros, os gatos na tuia, os bem-te-vis assoviando na hora da sesta. As goiabas brancas, vermelhas, maduras no pé. E lá longe, perto do bambuzal, a lagoa morna dos meus 12 anos, quando as pontas dos peitinhos sobre a roupa molhada das outras meninas me interessavam mais do que os meus próprios.
Pés descalços que esmagavam os gravetos secos e se cortavam nas pedras afiadas. A trilha de pingos que as roupas molhadas faziam na terra quente. E as aranhas, expandindo suas teias e armando planos para beliscar nossos pés durante a noite. Noite. Vaga-lumes, besouros e sapos. Sapos que perseguiam a tia solteira enquanto preparava a janta, que lhe rendia gritos de terror e cortes na mão. Alienígenas, discos-voadores, sombras por detrás das arvores. E você, enroscada em minhas coxas, enquanto descobria o seu mesmo corpo contornando o meu, me dava pequenos beijos no pescoço, nas noites dos desejos calados dos nossos 12 anos.

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