Wednesday, October 01, 2008

Sobre sonhos, ônibus, o passado e o que virá..


Um meio-dia opaco de uma tarde sem graça.
Tão sem graça quanto os meus amores desfeitos.
Tão sem graça quanto todas as paginas de livros e filmes que eu já vi.
Um meio-dia tão inútil quanto os sonhos que uma pessoa sem graça (como eu) possa conceber.
E ainda assim, sei que a qualquer momento eu posso olhar para o horizonte e inventar novos sonhos.
Antigamente, as noites costumavam ser gostosas. O calor era morno, as minhas grandes expectativas ventilavam a sala, e a tevê me divertia.
Hoje, nem você me diverte. Nem sexo. Nem filmes. Nem gatos. Nem ninguém.
Bom, capuccino me deixa muito feliz.
Minha própria xícara de felicidade expressa.
Sentar e ler Henry Miller em um ônibus lotado á caminho do centro também me faz sentir bem. Enquanto todas as pessoas escoram suas cabeças vazias na janela, eu leio e ouço Velvet Underground com a ilusão de estar vivendo uma manhã que nunca mais existirá novamente.
Bom, a minha vida é isso mesmo. Um ônibus lotado regado a capuccino e rock’n’roll, dando voltas e mais voltas em torno de meus sonhos desfeitos, na estrada sem escalas de minha vida sem destino.
Olhando o que ficou para trás, tenho a sensação de que todos os meus momentos especiais não passavam de infortúnios. Onde as melhores lembranças se transformaram em filmes franceses, e todos os meus amigos se afastaram, todos os meus amores ficaram desapontados e todos os meus sonhos ruíram antes mesmo de serem sonhados.
Eu sei que vou puxar a cordinha e parar no próximo ponto.
E vou abandonar todas as minhas tristezas no banco do motorista, pisar numa rua nova com várias direções e vários caminhos que me levarão a uma cidade (tão agitada que não terei tempo para lembrar que eu existo), onde ninguém dorme, mas se sonha tanto a ponto das manhãs acordarem cinza de desesperanças.
E nesse ponto encontrarei novos amigos, novos sonhos, novos amores e novos sabores de capuccino, prontos para se afastarem, se quebrarem e me deprimirem. Como quando o capuccino acaba e fica só o açucar na xícara, o açucar da minha vida sem gosto.
Num meio-dia sem graça.
Com tantos sonhos e tantas novidades há um passo de se realizarem.
Na próxima parada de ônibus, no proximo possivel final feliz na minha vida sem sentido.

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