Friday, May 08, 2009

Pessoas... de novo.



Parecerei repetitiva. Eu sei. Mas não tenho outra opção... O post “Pessoas” foi um desabafo meu. Infelizmente, só um desabafo não me basta. Escreverei outro (riso maléfico)!
Esclarecendo meu próprio termo, não é, exatamente, um “desabafo” o que escreverei. Está mais para um post filosófico. Já que não estou no curso de Filosofia, ao menos ainda me reservo o luxo de pensar. E postar minhas idéias.
Creio que, no texto anterior, eu tenha deixado certas coisas sem explicação. Pois bem, eu duvido muito que alguém tenha lido, o que é ótimo, em parte, pois não me censurarei neste segundo post.
Reafirmo minha opinião: Sim, as pessoas estão submersas num oceano de estupidez e autodestruição. E elas esperam, em vão, que Deus venha salvá-las do iminente afogamento ao qual se submeteram por conta própria. Acontece que Deus nunca vem, não estou duvidando de sua existência, provavelmente por Ele estar infinitamente mais ocupado com questões acerca do firmamento. Um firmamento desconhecido e ansiosamente aguardado pelos indivíduos que se deixam afogar no mar de suas ignorâncias. Da ignorância que cada um de nós carrega surge a dúvida que somos incapazes de explicar com o nosso raciocínio primitivo. E o nosso raciocínio primitivo cria respostas insustentáveis, se vistas de modo lógico, para nutrir nossa ilusão de sermos seres superiores que, ao andar sob duas pernas e manusear pedras mortíferas, não merecem, de forma alguma, um final “simples”, no qual se morre e tudo acaba. Dessa ilusão surgiu o mito que sustenta as bases da humanidade: a imortalidade da corrompida alma humana que, por sua vez, só se dá no firmamento, ao lado de Deus todo poderoso, o Pai generoso que, após nossa sofrida vida, nos afagará em seu colo celestial e perdoará os pecados cometidos pela nossa ignorância, pela nossa falta de instrução e pelos nossos instintos animalescos. Infelizmente, senhores, isso é só uma doce ilusão. Claro que eu posso estar errada, mas o questionamento não condiz com a doutrina religiosa, muito pelo contrário, o fato de nunca termos obtido uma confirmação da existência de Deus, apenas sustenta o mistério e a duvida que nos mantém vivos e crédulos. Na duvida acerca da existência da imortalidade, submetemo-nos aos 10 Mandamentos, aos caprichos católicos, aos retrocessos evangélicos, por temermos a rejeição da morada celestial se não cumpridas essas simples ordens. Senhores analisem comigo: Os 10 Mandamentos e, praticamente todas as vontades católicas, resumem-se a suprimir os instintos mais selvagens que um ser humano carrega dentro de si. Se o ser humano foi feito a imagem e semelhança de Deus, se o ser humano não tem nenhuma ligação genética com antepassados primatas, por que, então, haveria de ter instintos selvagens que, mesmo sob o risco de ser expulso do paraíso, mantêm-se invariavelmente presentes nesse mesmo ser humano? Seria a força do habito? A força do hábito de estuprar, matar, roubar, torturar e praticar todas as crueldades imagináveis mesmo após séculos de intimidação e crença na doutrina católica? É injusto acrescentarmos o “diabo” nessa história. O Homem não tem livre arbítrio? Se sua inclinação para o bem se dá igualmente para o mal, podemos concluir que ele é facilmente manipulável e que sua livre escolha não lhe é digna, como não lhe é digna a salvação, sendo seus atos forçados e falsos que se baseiam em regras nas quais ele mesmo não acredita ou cumpre tendo, unicamente, um interesse próprio predefinido. Falando em manipulação, sejamos francos, ao contrário do que alguns marxistas e liberalistas (as duas visões políticas, no fim, caem na mesma contradição) afirmam, a indústria cultural ou a lavagem cerebral não alienam o homem. Alguém pode me dizer algum momento histórico em que o homem tenha sido dono de sua própria mente? Nos primórdios da humanidade, inventaram a idéia de Deus e o jovem ser humano matou e morreu por essa alucinação. Cristo, igreja católica. O ilustríssimo pontífice aplicava e censurava trechos do Novo e do Velho Testamento afim de submeter o grandioso rebanho cristão a seu poder pessoal, epa... digo... ao poder de Deus na Terra, o virtuosíssimo Papa. Viva, viva. Aleluia. E assim, a cristandade guiou a vida ocidental (como outras doutrinas religiosas guiaram a vida em outras partes do globo). Veio a Modernidade. Veio as revoluções políticas nas quais os “cidadãos” de bem e de boa vontade aderiram ao sistema social que mais se identificavam: a compra, o comércio, a liberdade de ficar em frente a televisão assistindo comerciais no intervalo entre um filme hollywoodiano e outro. E se sentir imensamente feliz por viver em uma sociedade “livre”, porém desigual... é a vida, nem tudo é perfeito. Ou, unir-se aos sofredores, aos mártires, aos trabalhadores cujo suor transformou-se em sangue nas mãos de ditadores empenhados na fortificação de seus arsenais nucleares. Porém todos tinham pão. E não televisores. Independente da sua escolha pessoal, leitor (se é que alguém vai ler isso), a humanidade seguirá, como sempre seguiu, cegamente ao primeiro que lhe dê o que comer, ou no que acreditar. A civilização foi construída em cima dessas duvidas acerca da imortalidade e da recompensa pelos constantes sacrifícios aos quais o pobre cristão submete-se (como não matar a sua vizinha quando ela joga o lixo na sua calçada, ou ir à igreja aos domingos ainda que prefira ficar em casa e assistir o jogo de futebol e até mesmo não pular a cerca que separa sua casa do bordel na esquina), visando unicamente, UNICAMENTE, sua própria salvação. Como eu poderia conviver com seres desse tipo? Como eu poderia viver todos os dias ao lado desse tipo de criatura sem desdenhá-las ou tomá-las como completos imbecis? Bom, é isso... espero que eu tenha conseguido explicar de modo detalhado os motivos da minha repulsa pelos seres humanos. Mas, devo acrescentar antes de terminar esse post, que eu, de fato, amo a humanidade. As obras, os feitos que todos nós construímos no decorrer da história e no dia-a-dia, são magníficos, incríveis, inacreditáveis! Mas o meu amor pela humanidade resume-se a admiração por uma pintura impressionista: de longe, é maravilhosa, celestial, parece moldada pelas mãos de um ser superior, parece divina... Mas ao aproximar-me, vejo apenas pinceladas indistintas que se resumem a pequenos pontinhos de tinta coloridos que, vistos de perto, vistas suas almas, não passam de manchas perdidas em uma tela branca.

Tuesday, May 05, 2009

Antigo.



Ele morava em uma casa antiga.
Centenária, em uma rua antiga, no centro daquela antiga cidade.
Seus pais também eram antigos, velhos e tardaram a morrer. A casa era herança.
Ele tinha uma filha jovem, recém-nascida e uma esposa dedicada e juvenil.
As paredes desbotadas de sua moradia arcaica, certa noite, desabaram seus tijolos seculares sobre a jovem família do rapaz. O sangue manchou o lençol branco da cama que, há muito tempo, fora de seus pais. A negra poeira nos móveis grudou nas lágrimas do homem que sentou na calçada defronte a sua porta rachada. Sentou e se esqueceu de sua existência.
Nos primeiros meses, ainda era possível flagrá-lo piscando ou bocejando. Costumava murmurar palavras incompreensíveis quando esbarravam nele por descuido. Com o passar dos anos, o pó acumulado em suas feições criou uma camada rígida e lisa sob sua pele. O homem que nasceu naquela casa antiga, filho de pais antigos, tornou-se uma antiguidade. Décadas após o desmoronamento, o terreno foi demarcado e sobre as ruínas de uma longínqua vida foi criada uma nova casa. A estátua que se tornou, foi depositada cuidadosamente na sala de estar e era apreciada por todos os convidados que por ali passavam. Menos pelos dois filhos dos anfitriões que, afirmavam convictos, era uma estatua mal assombrada. As crianças ouviam o choramingo discreto do homem petrificado nas madrugadas frias e atormentavam os pais com seus pesadelos. A estátua foi vendida. E voltou a causar calafrios nos donos da casa de penhor. Sua insustentável tristeza transbordava e, com o tempo, lágrimas passaram a escorrer de sua face cinza. O homem passou a atrair uma grande clientela para o estabelecimento por conta disso. Mostrar o sofrimento alheio é sempre um grande negócio e, pensando dessa maneira, o dono de um show de horrores comprou a peça. “A estátua que chora. Aproximem-se e ouviram a única rocha com coração no mundo”. Canais sensacionalistas de televisão se amontoavam para filmar a sina do homem estátua. ONGs protestavam. Religiosos também. Um grupo de arqueólogos, na madrugada gelada, invadiu o circo e raptou a estátua. Queriam saber qual era sua origem e se sua venda lhe dariam algum retorno monetário. O cobiçoso dono do show de horrores disparou seu revolver. O silencio noturno deu lugar ao eco dos tiros e o eco dos tiros foi quebrado pelo agudo grito de dor emitido por detrás da fina camada em que se ocultava o corpo do homem. O sangue escorria por entre as rachaduras e regava a terra fria. Os cacos se espalharam, mas não se via ossos ou pele entre eles. Escondida entre os destroços ensangüentados, uma lágrima refletia à luz do luar.