Tuesday, June 01, 2010

Aniversário



O mês de junho abraçou meu dia. Após um verão de esperançosas expectativas que, como qualquer outra expectativa, se converteu em arranhões na pele e rubor nas faces, o inverno, enfim, corta meu rosto em suas tardes de terra gelada e sol reconfortante. Ás 7 horas da manhã eu nasci e em 365 dias eu estarei morta, como toda boa alma que, tendo consciência da indiferença do mundo perante sua existência, desiste de si mesma em prol da paz universal alheia. E a favor da permanência do caos generalizado que permeia as relações inter-humanas. Meu aniversário chegou com badaladas cadavéricas, anunciando que o fim se aproxima para quem tanto o deseja. A partir de hoje, minha vida caminhará em passos cronometrados e contados rumo a incessantemente perseguida “bela morte”. Se eu pudesse recomeçar em algum lugar longínquo, no qual ninguém me conhecesse e minhas desilusões passadas se resumissem a pequenos calafrios de arrependimento, minha vida estaria salva. Mas o mundo é um lugar muito pequeno e todos os seus habitantes dividem uma ideologia da qual sou incapaz de participar. Devido a esse pequeno pesar, criei uma série de contos autobiográficos destinados a narrar os últimos dias da minha vida de incômodo perpétuo.

1 comment:

Anonymous said...

Li, comecei a ler hoje e li bastante, talvez vc esperasse algum comentário mais denso e talvez eu devesse fazer um comentário mais denso, mas vou me limitar na afirmação. Li e vou continuar lendo.