Saturday, June 05, 2010

Cinza.



No quinto dia, o céu amanheceu da cor dos seus olhos. Um ponto do meu corpo, perto da minha orelha, perto das minhas mãos e longe do meu pescoço guarda sangue seco, cego e doloroso. Ontem eu ri e agora só me resta gritar. Mas não há ouvidos de gente ou de animal para me ouvir. A cada dia minha pele fica mais luminosa. Hoje eu perguntei as paredes o que eu deveria fazer da minha morte. Ao mesmo tempo em que as alegrias rodeiam o meu corpo, e não é por elas que quero ficar aqui, há tantas outras proezas incertas e irresistivelmente tristes que me prendem em um sentimento eterno de não-viver. Quando eu tinha 15 anos eu sorria ao respirar. Com meus 19, só dói quando eu respiro. Estou tão exausta de invocar memórias de épocas felizes. Não suporto mais viver de passado, mas o tempo passa e tudo o que resta para me confortar é o que eu já vivi.

2 comments:

Anonymous said...

A sua dor é bonita.
Resta saber o quanto sua carne aguenta. Se não fosse diminuir os movimento, se não fosse lhe pesar mais nais, lhe daria escamas de inox.
A dúvida, que nos rebate em vórtices, são mais generosas em volúpia que uma cidadania bem assalariada.

Se não consegue viver por si mesma, viva para queles que apreciam teu show. Destilando arte em agonia, fingindo ser brincadeira séria o salto, mesmo o susto já lhe arrancando os dentes, mártir da sua própria redenção.

(ita)

Unknown said...

Eu estou vivendo para aqueles que apreciam o meu show. Mas não se pode fazer show 24h, como não se pode passar a vida interpretando um papel que não condiz com a realidade. :(